Vulcão Lascar: se você curte aventura, esse trekking é para você.

🕑 9 minutos de leitura
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Um dos tours mais aguardados por mim durante o planejamento da viagem ao Atacama foi ele, o senhor dos vulcões: LASCAR.

Com altitude de 5592 metros, eu já sabia que o Trekking Vulcão Lascar seria um desafio físico e mental. E mesmo depois de tanto ler e ouvir relatos de outros viajantes, descobri na prática que não existe fórmula de sucesso quando se trata da natureza.

Mas como dizem, estar preparado é tudo!

Subir o Vulcão Lascar é uma experiência de vida

Por que escolhi o Vulcão Lascar?

Antes de mais nada, o Chile tem (pasmem) cerca de 2.000 vulcões, sendo mais de 90 deles ativos.

O Lascar, por sua vez, é considerado o vulcão mais ativo do norte do Chile, e  subir um vulcão que estivesse vivo por dentro estava na minha lista de coisas para fazer antes de morrer.

É aquele tipo de aventura que me dá friozinho na barriga. Mas eu sabia que a altitude no Chile poderia ser um dificultador, além disso, estava meio sedentária para maiores peripécias.

Assim, depois de pesquisar bastante, o Lascar me parecia uma das mais “fáceis” opções de vulcões no Atacama. Alguns descreviam o trekking como tranquilo, no máximo intermediário.

Resolvi acreditar e fechei o passeio, mal podia esperar!

Tudo começa na preparação

E quando eu digo preparação, não é apenas o que acontece um dia antes.

Já no Brasil, por exemplo, eu me preparava psicologicamente. “Vai ser insano chegar ao topo do vulcão?” Siiiim! Mas isso poderia não acontecer e eu  precisava estar preparada também. 

Logo que cheguei ao Atacama, senti a temida soroche, o mal de altitude.

O problema é que falta de ar não passava nunca, mesmo depois de quase uma semana em San Pedro. Isto mexeu muito com o meu psicológico e eu sabia que chegar ao cume do Lascar se tornava um sonho cada vez mais distante.

Buscando por ajuda com os locais, fui apresentada ao chá de chachacoma, uma plantinha andina que nasce em altitudes acima de 4.000m e tem propriedades vasodilatadoras, ou seja, ela ajuda na circulação sanguínea e diminui os efeitos da soroche.

Mas seu efeito não é instantâneo como o do chá de coca, é preciso tomar diariamente, e assim o fiz durante 5 dias antes do trekking. De fato os efeitos diminuíram e eu me sentia mais animada para meu desafio. 

Além disto, há outras recomendações para o dia anterior, como alimentação leve (evite carne vermelha), suspender a ingestão de álcool e, claro, dormir cedo.

Segui tudo à risca, mas foi difícil dormir com tanta ansiedade.

Subindo o lascar, Vulcão mais icônico do Atacama

Chegou o grande dia!

Às 5h da manhã o guia começa a passar nos hotéis. Enquanto espera, observe o céu, não há nada igual!

Mesmo estando no centro de San Pedro, é possível ver as constelações, a via láctea. Acordar tão cedo tem suas vantagens… 

Esse céu da madrugada é um ótimo incentivo pra pular da cama

Como se vestir e o que levar ao Vulcão Lascar?

Use roupas térmicas, de preferência.

Mesmo no verão, quando a temperatura é mais amena, faz mais frio a cada passo da subida. No inverno você encontrará neve e a sensação térmica pode passar dos – 15˚C, então touca e luvas também podem ser necessárias.

Uma boa bota de trekking é item obrigatório e vai te ajudar no terreno íngreme, cheio de pedras soltas e neve. 

Quanto menos peso na mochila, melhor!

Na mochila não pode faltar:

  • Muito, mas muito otimismo haha;
  • Óculos de sol;
  • Protetor solar e hidratante para os lábios;
  •  1l de água é de praxe, mas minha dica é: suba com apenas 500ml de água e deixe a outra metade no carro. Todo e qualquer peso que conseguir economizar, vai ajudar demais na subida;
  • Barrinha de cereal ou uma fruta;
  • Chocolate, além de um prêmio de consolação, ajuda a abastecer as energias e ainda diminui o mal estar da altitude;
  • Folhas de coca para mastigar quando necessário.

Levei também alguns itens extra que considero indispensáveis:

  • vaselina/manteiga hidratante para passar na narina (era o meu sétimo dia no Atacama e meu nariz já estava bem sofrido);
  • álcool em gel (no meu caso com a falta de ar, ajudava muito nos momentos de crise colocar um pouco na mão e inspirar);
  • lenço/pescoceira (protege o rosto da temperatura congelante e deixa o ar mais quentinho pra respirar).

Um trajeto cheio de lendas… e buracos

No caminho, o guia explica algumas questões técnicas enquanto dirige por cerca de 3 horas até o vulcão Lascar.

É um trajeto bem irregular e dirigir uma 4×4 ali é coisa de profissional. Além disso, o carro deve ser confortável para chegarmos inteiros na parte mais importante da aventura.

Todo o papo com o guia pelo caminho mostrou que estávamos com alguém que conhecia MESMO o vulcão, e esta confiança vai ser decisiva durante a subida.

Apesar do sono por termos acordado de madrugada, ouvi-lo contando sobre o que estava por vir deu uma injeção de ânimo necessária.

Vulcões Licancabur e Juriques, os filhos de Lascar

Foi neste momento também que ouvimos as lendas acerca do Lascar, praticamente um ‘Casos de Família’ versão chilena.

Na cultura andina, os vulcões são figuras masculinas e as montanhas (ou cerros), figuras femininas. Lascar é pai de dois vulcões, Licancabur e Juriques (aqueles vulcões que vemos de todo e qualquer ponto do Atacama).

Os irmão eram apaixonados por Quimal, mas apenas Licancabur era correspondido pela amada. Após Juriques tentar conquistar Quimal, traindo o irmão, uma briga grandiosa tem início e termina com Licancabur arrancando parte da cabeça do irmão.

Papai Lascar então os pune e manda Quimal para longe. Porém, vendo que o amor de Quimal e Licancabur era verdadeiro, permite que uma vez ao ano, no solstício de inverno, suas sombras se encontrem. 

Lagoa Lejía

Finalmente, chegamos aos pés do vulcão, quando me deparei com uma agradável surpresa: Laguna Lejía.

Já tinha visto fotos belíssimas, mas não tinha me dado conta de que ficava ao lado do Lascar.  E por mais lindas que sejam as fotos, te garanto, é ainda mais bonita ao vivo.

Este espelho natural tem quase 2km de extensão e, se um Lascar não foi bonito por si só, ela nos proporciona uma vista com dois

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Sol nascendo na Laguna Lejía e refletindo o Lascar

É neste cenário paradisíaco que tomamos o café da manhã.

Muita comidinha leve e saudável para aguentar o tranco, chás bem quentes (um alívio para o corpo naquele dia frio) e ganhamos até chocolatinho para comer quando chegássemos ao cume. 

Depois de um café reforçado, é indicado usar o baño inca para não ter vontade de fazer xixi na subida.

Esta é uma experiência a parte em todo passeio pelo Atacama. Juro, sempre era um acontecimento engraçado. Para quem não sabe, o temido baño inca nada mais é do que fazer xixi em campo aberto, na natureza, pois não há banheiros públicos nos locais.

A questão deste lugar é que não há nem um arbusto, uma pedrinha, um nada, pra gente se esconder. A segunda questão é botar o popô pra fora num frio congelante, coragem!!!

O primeiro encontro com o Vulcão Lascar

Como eu disse logo no início, a altitude do Vulcão Lascar é de 5.592m, mas não começamos o trekking desde a base dele.

O carro nos leva até os 4.800m mais ou menos e subimos o restante até a cratera em uma caminhada de cerca de 3km. Fácil, né?

Nãaaao! Quando a gente desce do carro e olha pra cima, o topo realmente parece logo ali, mas não se deixe enganar.

O que não esqueço mesmo foi a sensação de olhar na direção contrária, para baixo. É apenas SURREAL.

Lindo, emocionante, chorei de felicidade. Não tem foto no mundo capaz de retratar aquele momento, a sensação de pequenez quando olhamos aquela natureza imensa nos rodeando.

“O Lascar nem parecia tão grande assim lá de baixo, como foi que virou esse gigante de repente?”, eu pensava boquiaberta enquanto olhava as nuvens à minha volta. Sim, nuvens, estávamos alto assim. Dali de cima, ele realmente parecia um poderoso Deus Inca.

A vista logo que descemos do carro

Arriba!!!

Depois de uns minutos de reflexão próximo ao carro, o guia nos chama para a preparação final, entrega um par de bastões de trekking, um capacete e dá os últimos avisos, entre eles o que mais me deixou tensa: o grupo permanece junto do início ao fim, e se alguém desistir, todos voltam.

Eita, lasqueira! 

Por volta das 9h finalmente começamos a subir o Vulcão Lascar. Com passos lentos, sincronizados, concentrados na respiração.

Essa era a chave do sucesso, a respiração. Nossa perna não seria problema, eram apenas 3km de subida e a inclinação não passaria dos 25˚, mas o pulmão não podia falhar. 

Devidamente equipados e começando a subir

Só que o meu falhou….

Eu não conseguia respirar, meu peito ardia e a cabeça parecia que iria explodir. Comecei a chorar, mas desta vez de decepção. Quanto mais eu chorava, tudo doía mais.

Faltavam ⅔ do trekking e eu já estava naquele estado. Não ia conseguir, mas não podia desistir e fazer um grupo inteiro voltar por minha causa.

Não podia desistir porque aquilo era muito importante pra mim e precisava provar pra mim mesma que era capaz. 

Morreu, mas passa bem

Lembra que eu disse que a confiança no nosso guia seria decisiva na subida? Mas a confiança dele em mim também foi.

O guia, Turco, veio conversar comigo, disse que seria melhor eu desistir porque a pior parte não tinha nem chegado e eu claramente não aguentaria.

Chorei ainda mais quando ouvi ele dizer algo que eu já havia concluído.

Mas eu não esperava que ele iria dizer algo na sequência do chororô: “Te ver chorar me fez ver o quanto isso é importante para você, vamos subir essa $%*# juntos! Você consegue!!” 

E assim eu fui, subindo com passos de tartaruga enquanto ele gritava ao meu lado. “Mais 100 passos!”, “mais 100 passos!”, “você consegue”.

Eu me concentrava em contar os passos e respirar, tudo no meu tempo, e quando vi, trocentos passos depois, cheguei à cratera. Preciso dizer que chorei de novo?

Ele comemorou comigo uma vitória que parecia dele, e até fizemos um book de fotos registrando aquela conquista hahah

Morrendo de amores pelo guia porque sim!

Cheguei à cratera, dá pra acreditar?

Mesmo aquela fumaça com forte cheiro de enxofre era especial haha A vista se superou, e o sentimento de concluir aquilo é impagável.

Você se sente capaz de fazer qualquer coisa depois de subir um Vulcão no Atacama. 

Euzinha na cratera, tenho provas!
O Lascar é um vulcão ativo e lá de baixo já é possível ver sua fumarola com cheiro de enxofre

Depois da cratera, ainda tem a opção de fazer mais uns 40min de trekking para chegar ao cume. O trecho é mais curto, porém mais íngreme. Decidimos não continuar, a caminhada havia sido difícil para todos e estávamos no limite.

Chegou a hora de descer o Vulcão Lascar

Na descida a respiração não é mais o problema principal, você agora precisa se concentrar nas pernas e ter força para segurar o passo.

Mas atenção, se descer muito rápido a descompressão pode causar mais dor de cabeça. 

Sou muito grata ao meu guia e ao restante do grupo, que tiveram a maior paciência comigo. Afinal, a subida, que deveria ser feita em 2h, levou quase 3h. E a descida de 1h30 virou 2h.

Um grupo unido e um guia com tanta animação e conhecimento fazem toda a diferença.  Eu não consigo nem imaginar o que teria sido desta experiência sem um profissional tão bacana quanto ele, me incentivando o tempo todo e cuidando do meu bem estar.

Subir um vulcão é coisa séria e ter um guia especializado é essencial para uma aventura segura e agradável. 

Valeu timeeee!

De volta ao carro, felicidade a mil. Comemos mais um lanchinho e retornamos para San Pedro.

Em silêncio, absorvendo tudo que tinha acontecido naquela manhã e cansadíssimos, sem forças até para falar.

Tudo valeu a pena, e como!

Por fim, ficou com vontade de colocar trekking em Vulcão na sua lista de experiências? Conta pra gente nos comentários!

2 respostas para “Vulcão Lascar: se você curte aventura, esse trekking é para você.”

  1. Geovanna Sobrinho disse:

    Oi tudo bem? Obrigada por compartilhar conosco sua aventura e todas essas dicas? Você ainda tem o contato desse guia, pra me passar? Obrigada !!

    • admfgtrips disse:

      Oi, Geovanna! Tudo bem e você?
      Nossa agência que organiza esse passeio com guia de montanha especializado. Me sinaliza se gostaria de ser atendida, e vou pedir para alguém de nossa equipe entrar em contato.
      Abraços!

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